UMA ORAÇÃO DE CORÉ, DE HEMÃ
1-9 Ó Eterno, tu és meu último recurso neste dia! Passei a noite de joelhos diante de ti. Põe meu nome na tua agenda de salvação! Toma nota dos problemas em que estou envolvido! Já tive meu suprimento de problemas: estou acampado à beira da sepultura. Eu fui rejeitado como caso perdido, um dado estatístico, um caso sem esperança. Abandonado como se já estivesse morto, mais um indigente no necrotério, Sem direito à lápide. Caí no buraco negro do esquecimento. Tu me lançaste num poço sem fundo, Me empurraste para um abismo escuro. Estou quebrado, desacordado sob o peso da tua ira, Arrastado por tuas ondas de fúria. Tu puseste meus amigos contra mim, fizeste-me parecer horrível para eles. Encontro-me num labirinto e não encontro a saída, cegado pelas lágrimas de dor e frustração.
9-12 Clamo a ti, ó Eterno, durante todo o dia! Aperto as mãos e peço socorro. São os mortos, por acaso, uma boa plateia para teus milagres? Os mortos já se juntaram ao coral que te louva? Teu amor faz alguma diferença no cemitério? Tua presença é notada nos corredores da morte? Teus maravilhosos feitos já foram vistos na escuridão? Teus justos caminhos já foram percebidos na Terra dos Sem-Memória?
13-18 Ó Eterno, continuo gritando por socorro, em minhas orações toda manhã, de joelhos, ao romper do dia. Por que, ó Eterno, te fazes de surdo? Por que te manténs afastado? Pois até onde consigo lembrar, sempre estive ferido; recebi o pior do que podes dar. Tua ira inflamada queimou minha vida; estou sangrando, cheio de hematomas. Tu me atacaste ferozmente de todos os lados; fui esmurrado até chegar à beira da morte. Tu me deixaste até sem amigos e vizinhos. A única amiga que restou foi a escuridão.